A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um “mal silencioso”, ou seja, pode estar presente sem que o paciente apresente qualquer sintomatologia clínica. Sendo uma das causas mais comuns de morbidade e mortalidade na medicina humana, a HAS também é uma doença que acomete cães e gatos.
É definida como o aumento persistente da pressão arterial sistólica, podendo causar alterações mecânicas e funcionais dos vasos sanguíneos, e consequentemente lesões em tecidos e órgãos-alvo.
A pressão arterial juntamente com a temperatura, frequência cardíaca e frequência respiratória, considerados os quatro sinais vitais primários, é o elemento fundamental da hemodinâmica e um dos mais importantes parâmetros de avaliação no atendimento clínico.
Diagnóstico
Para que seja possível o diagnóstico e tratamento da HAS é necessário que se faça a aferição confiável da pressão arterial, sendo assim temos uma série de cuidados que devem ser tomados, desde a escolha do método e sua execução, assim como correlacionar o comportamento e sinais clínicos do paciente, para interpretação dos valores obtidos.
Trata-se de um exame simples, indolor e facilmente exequível, e quando realizado com técnica correta nos transmite informação válida acerca do estado de saúde do animal. No CDVET utilizamos o método doppler vascular, não invasivo e efetivo quando comparado a outros métodos.
Vale lembrar que a aferição da pressão arterial deve ser uma etapa do exame físico do paciente, sobretudo nos animais idosos, pois a prevalência da HAS nas espécies canina e felina são maiores nesta faixa etária, e na grande maioria dos casos é secundária à uma doença pré-existente.
Principais causas em cães e gatos
1. Hipertensão situacional
Também chamada de “síndrome do jaleco branco” e está relacionada ao medo do ambiente hospitalar, essa causa é bastante comum e de extrema importância pois deve ser identificada pelo médico veterinário a fim de evitar falso diagnóstico de HAS.
Ansiedade, agitação e medo são causas transitórias de aumento da pressão arterial em cães e gatos, devido ao efeito das catecolaminas. Como alguns animais podem se estressar somente porque saíram de casa, deve-se associar o valor obtido com o temperamento do paciente no momento da aferição e com possíveis doenças de base que sustentam a HAS; além de repetições da aferição em diferentes ocasiões.
2. Hipertensão secundária
É a mais comum na rotina clínica de pequenos animais, ou seja, o aumento persistente dos valores da pressão arterial em cães e gatos na maioria das vezes é secundário e está associado à uma doença de base, principalmente a doença renal crônica e as doenças endócrinas (sobretudo o hiperadrenocorticismo), assim como o uso de fármacos esteróides.
Lembrando que as doenças cardíacas adquiridas raramente cursam com hipertensão arterial, na verdade é muito mais comum que o paciente tenha hipotensão arterial. O que acontece é a HAS crônica, ou seja, sustentada, causando alterações estruturais no coração e consequentemente a insuficiência cardíaca congestiva.
3. Hipertensão primária
A hipertensão idiopática, onde há aumento persistente da pressão arterial sem uma causa subjacente, é considerada rara na clínica veterinária, porém estudos recentes indicam que este tipo de hipertensão pode ser mais comum do que se pensava anteriormente, representando em torno de 20% dos casos de hipertensão em gatos.
Porque é importante o monitoramento da pressão arterial e o tratamento?
O aumento persistente da pressão arterial, HAS sustentada, causa lesões aos tecidos e o tratamento visa a prevenção destas lesões.
A presença de LOA (lesão em órgãos-alvo), como por exemplo retinopatia ou doença renal, justifica o início do tratamento após uma única aferição, porém na maioria dos casos os resultados devem ser confirmados por aferições repetidas em múltiplas ocasiões.
Assim como a pressão arterial elevada em pacientes jovens e saudáveis deve ser considerada como hipertensão situacional (“síndrome do jaleco branco”) até que se prove o contrário, com aferições repetidas em dias diferentes.
4 principais órgãos-alvo para lesão hipertensiva:
Rins
A principal causa de HAS, tanto em cães quanto em gatos, é a doença renal crônica. A presença de proteinúria marca a lesão glomerular, e pode ocorrer em decorrência da hipertensão ou estar associada a doença renal de origem glomerular. Urinálise e relação proteína:creatinina urinária são exames de triagem necessários e essenciais para avaliar o paciente hipertenso.
Olhos
O paciente pode apresentar cegueira súbita, descolamento e hemorragia de retina e sinais de retinopatia e coroidopatia hipertensiva. Sendo necessário uma avaliação com especialista em oftalmologia.
Cérebro
Convulsões, sinais de encefalopatia hipertensiva, assim como sinais neurológicos mais graves associados a acidente vascular encefálico, que não são comuns na rotina clínica veterinária.
Coração
Hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo e suas repercussões como a insuficiência cardíaca congestiva esquerda. Independente da causa da HAS o remodelamento cardíaco vai acontecer a longo prazo.
Fique atento! Caso tenha alguma dúvida estaremos à disposição para orientá-los da melhor forma, proporcionando o melhor para o seu paciente.