O meu paciente está com suspeita de hérnia de disco, qual exame devo solicitar?

Antes de qualquer conhecimento sobre a doença do disco intervertebral (DDIV), comumente chamada de discopatia em animais de companhia, devemos relembrar um tópico muito importante, a anatomia.

Lucas Canesin

Antes de qualquer conhecimento sobre a doença do disco intervertebral (DDIV), comumente chamada de discopatia em animais de companhia, devemos relembrar um tópico muito importante, a anatomia, certo?

Lembrando que o mamífero apresenta 7 vértebras cervicais, 13 torácicas, 7 lombares, 3 sacrais e dependendo da raça entre 3 a 20 ou mais vértebras coccígeas.

Sendo divididas em segmentos medulares:

  • Cervical (C1 - C5)
  • Cervicotorácico (C6 - T2)
  • Toracolombar (T3 - L3)
  • Lombossacra (L4 - L6)
  • Sacrais e caudais (L7 - S3)

Para cada segmento supracitado o paciente apresenta diferentes sinais clínicos, ou seja, a suspeita de DDIV começa através de um histórico clínico bem detalhado, sinais clínicos apresentados e um exame neurológico minucioso.

Raios-x coluna cervical normal
Raios-x coluna lombar normal
Tomografia coluna cervical normal, reconstrução 3D
Tomografia coluna cervical normal

Doença do disco intervertebral (DDIV), Hansen tipo I, II e III, qual a diferença entre elas?

A doença do disco intervertebral (DDIV) ou discopatia é mais comum em cães e relativamente rara em gatos. Existem dois tipos de degeneração, a condroide e a fibroide.

Na degeneração condroide o núcleo pulposo que normalmente é gelatinoso perde a sua capacidade de armazenamento de água, sofrendo degradação e muitas vezes se tornando calcificado. Assim, o anel dorsal (ânulo fibroso) enfraquece, consequentemente se rompe e o núcleo pulposo faz extrusão para dentro do canal vertebral, promovendo compressão da medula espinhal, sendo classificada como Hansen tipo I, ou extrusão de disco intervertebral tipo I.

A Hansen tipo I é mais comum nas raças de pequeno porte, em particular os condrodistróficos (Dachshund, Beagle, Basset hound, Pequinês, Shih-tzu, Lhasa apso etc), sendo o Dachshund a raça mais afetada. O pico de incidência ocorre entre 3 e 9 anos de idade, com evolução clínica aguda e de rápida evolução (minutos / dias).

Porém, raças de grande porte podem apresentar Hasen tipo I, sendo elas as raças mestiças, Pastor Alemão, Labrador retriever, Doberman e Rottweiler.

Já a degeneração fibróide envolve o espessamento progressivo do anel fibroso dorsal (ânulo fibroso), que progressivamente protrui dorsalmente para o interior do canal vertebral, promovendo compressão na medula espinhal, sendo classificada como Hasen tipo II, ou protrusão de disco intervertebral.

Ocorre tipicamente nas raças caninas maiores e não condrodistróficas, sendo o pico de incidência entre 5 anos de idade ou mais. Normalmente os sinais clínicos têm evolução crônica (semanas a meses, ou até anos).

Nos últimos anos foi descoberto um terceiro tipo de doença do disco intervertebral, conhecida como Hansen tipo III, ou em míssil, tratando-se de uma forma de pequeno volume e alta velocidade de impacto na medula espinhal, de natureza tipicamente não compressiva, sendo observada com maior frequência em raças condrodistróficas mais idosas, embora possa também acometer qualquer cão.

Tomografia coluna cervical apresentando extrusão de material de disco intervertebral calcificado, recontrução 3D
Tomografia coluna cervical apresentando extrusão de material de disco intervertebral calcificado
Tomografia coluna cervical apresentando extrusão de material de disco intervertebral calcificado
Tomografia coluna lombar apresentando extrusão de material de disco intervertebral calcificado
Tomografia coluna lombar apresentando extrusão de material de disco intervertebral calcificado

E agora? Qual exame eu devo solicitar? Radiografia (RX), Tomografia computadorizada (TC) ou Ressonância magnética (RM)?

O exame padrão ouro para melhor avaliação da medula espinhal e identificação de DDIV é a ressonância magnética, sem dúvidas!

Porém, não são todos os pacientes que têm acesso a RM, certo? Então, vamos falar um pouco sobre radiografia e tomografia computadorizada.

A radiografia digital é uma ótima ferramenta para triagem desses pacientes, sendo um exame sensível para identificação de diminuição do espaço intervertebral, fraturas, espondilolisteses, neoplasias ósseas, discoespondilites e degeneração do disco intervertebral (disco calcificado), porém, há uma limitação muito importante e valiosa em relação aos pacientes com suspeita de DDIV, sendo que a radiografia não consegue avaliar a medula espinhal, assim como a localização exata e o grau de compressão da lesão.

Lembrando que uma radiografia normal não descarta em hipótese alguma que o seu paciente não tenha a discopatia!

A tomografia computadorizada é um excelente exame de imagem avançado e hoje está sendo muito útil para o diagnóstico de doença do disco intervertebral (Hansen tipo I e tipo II), sendo caracterizada pela sua capacidade de localização, extensão e classificação da lesão em seu paciente, e capaz de identificar através de cortes extremamente finos (0,60mm) protrusões de disco intervertebral não calcificado, conhecido como “hérnia de disco mole”.

Gostou? Caso você médico veterinário clínico / cirurgião tenha alguma dúvida sobre os métodos de imagem discutidos acima, estaremos à disposição para orientá-los da melhor forma, proporcionando o melhor para o seu paciente.

pincelada de aquarela na cor vinho