Antes de qualquer conhecimento sobre a doença do disco intervertebral (DDIV), comumente chamada de discopatia em animais de companhia, devemos relembrar um tópico muito importante, a anatomia, certo?
Lembrando que o mamífero apresenta 7 vértebras cervicais, 13 torácicas, 7 lombares, 3 sacrais e dependendo da raça entre 3 a 20 ou mais vértebras coccígeas.
Sendo divididas em segmentos medulares:
- Cervical (C1 - C5)
- Cervicotorácico (C6 - T2)
- Toracolombar (T3 - L3)
- Lombossacra (L4 - L6)
- Sacrais e caudais (L7 - S3)
Para cada segmento supracitado o paciente apresenta diferentes sinais clínicos, ou seja, a suspeita de DDIV começa através de um histórico clínico bem detalhado, sinais clínicos apresentados e um exame neurológico minucioso.
Doença do disco intervertebral (DDIV), Hansen tipo I, II e III, qual a diferença entre elas?
A doença do disco intervertebral (DDIV) ou discopatia é mais comum em cães e relativamente rara em gatos. Existem dois tipos de degeneração, a condroide e a fibroide.
Na degeneração condroide o núcleo pulposo que normalmente é gelatinoso perde a sua capacidade de armazenamento de água, sofrendo degradação e muitas vezes se tornando calcificado. Assim, o anel dorsal (ânulo fibroso) enfraquece, consequentemente se rompe e o núcleo pulposo faz extrusão para dentro do canal vertebral, promovendo compressão da medula espinhal, sendo classificada como Hansen tipo I, ou extrusão de disco intervertebral tipo I.
A Hansen tipo I é mais comum nas raças de pequeno porte, em particular os condrodistróficos (Dachshund, Beagle, Basset hound, Pequinês, Shih-tzu, Lhasa apso etc), sendo o Dachshund a raça mais afetada. O pico de incidência ocorre entre 3 e 9 anos de idade, com evolução clínica aguda e de rápida evolução (minutos / dias).
Porém, raças de grande porte podem apresentar Hasen tipo I, sendo elas as raças mestiças, Pastor Alemão, Labrador retriever, Doberman e Rottweiler.
Já a degeneração fibróide envolve o espessamento progressivo do anel fibroso dorsal (ânulo fibroso), que progressivamente protrui dorsalmente para o interior do canal vertebral, promovendo compressão na medula espinhal, sendo classificada como Hasen tipo II, ou protrusão de disco intervertebral.
Ocorre tipicamente nas raças caninas maiores e não condrodistróficas, sendo o pico de incidência entre 5 anos de idade ou mais. Normalmente os sinais clínicos têm evolução crônica (semanas a meses, ou até anos).
Nos últimos anos foi descoberto um terceiro tipo de doença do disco intervertebral, conhecida como Hansen tipo III, ou em míssil, tratando-se de uma forma de pequeno volume e alta velocidade de impacto na medula espinhal, de natureza tipicamente não compressiva, sendo observada com maior frequência em raças condrodistróficas mais idosas, embora possa também acometer qualquer cão.
E agora? Qual exame eu devo solicitar? Radiografia (RX), Tomografia computadorizada (TC) ou Ressonância magnética (RM)?
O exame padrão ouro para melhor avaliação da medula espinhal e identificação de DDIV é a ressonância magnética, sem dúvidas!
Porém, não são todos os pacientes que têm acesso a RM, certo? Então, vamos falar um pouco sobre radiografia e tomografia computadorizada.
A radiografia digital é uma ótima ferramenta para triagem desses pacientes, sendo um exame sensível para identificação de diminuição do espaço intervertebral, fraturas, espondilolisteses, neoplasias ósseas, discoespondilites e degeneração do disco intervertebral (disco calcificado), porém, há uma limitação muito importante e valiosa em relação aos pacientes com suspeita de DDIV, sendo que a radiografia não consegue avaliar a medula espinhal, assim como a localização exata e o grau de compressão da lesão.
Lembrando que uma radiografia normal não descarta em hipótese alguma que o seu paciente não tenha a discopatia!
A tomografia computadorizada é um excelente exame de imagem avançado e hoje está sendo muito útil para o diagnóstico de doença do disco intervertebral (Hansen tipo I e tipo II), sendo caracterizada pela sua capacidade de localização, extensão e classificação da lesão em seu paciente, e capaz de identificar através de cortes extremamente finos (0,60mm) protrusões de disco intervertebral não calcificado, conhecido como “hérnia de disco mole”.
Gostou? Caso você médico veterinário clínico / cirurgião tenha alguma dúvida sobre os métodos de imagem discutidos acima, estaremos à disposição para orientá-los da melhor forma, proporcionando o melhor para o seu paciente.